Estações de trem se tornarão espaços culturais

Diário do Nordeste (23/8/2009)


Primeira estação ferroviária construída no Interior do Ceará foi em Baturité. Ainda hoje, o local preserva os traços arquitetônicos e históricos fotos Em Quixadá, em notório estado de abandono, o galpão de manutenção da RFFSA agoniza diante do progresso (Foto: Alex Pimentel)
Destino dos imóveis históricos ferroviários é aguardado com expectativa no Interior do Estado.
Quixadá Uma luz no fim dos trilhos. Matrizes do progresso a desembarcar no Interior do Ceará no início século passado, as velhas estações ferroviárias, erguidas pelas extintas RVC e RFFSA, finalmente poderão ter como destino a perpetuação histórica. O Ministério do Planejamento efetuará a transferência de todos os prédios considerados de valor histórico para as prefeituras e Fundações. Os terminais de embarque e desembarque de passageiros e cargas serão transformados em espaços culturais e turísticos como prova da evolução histórica e econômica do País. A decisão é outro marco, para fortalecer aquele que um dia trouxe o desenvolvimento para o Interior.No Ceará, a gerência regional da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) está dando início ao levantamento do inventário de todo o acervo imobiliário da extinta Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA). De acordo com o técnico da SPU, Carlos Roberto Nevares, os trabalhos deveriam ser realizados no ano passado, todavia, devido ao considerado número de prédios e à complexidade de alguns deles o Governo Federal optou pela contratação de uma empresa especializada para a elaboração do relatório. A escolha ocorreu por meio de licitação pública.O engenheiro da SPU não definiu data para a conclusão do serviço. Ressaltou, porém, que enquanto o laudo conclusivo não é apresentado, as instituições interessadas podem colher informações mais detalhadas para o processo de aquisição dos imóveis por intermédio de uma cartilha especial elaborada pelo Ministério do Planejamento. O material está disponível no portal eletrônico do órgão federal. Além do programa especial de transferência imobiliária, existem orientações sobre a preservação dos imóveis não-operacionais. A lei 11.483/2007 proíbe demolições e reformas.Embora os levantamentos preliminares tenham apontado cerca de 770 imóveis, dentre estações, casas de turma, depósitos, armazéns e oficinas, a SPU estima a existência de praticamente o dobro. Nevares avalia cerca de 1,3 mil imóveis, podendo chegar também a 1.500. Desses, pelo menos 400 não são operacionais. Mas só poderão ser transferidos quando a inventariança for concluída. O procedimento será o mesmo em todo o País. Caberá ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a definição da importância histórica e cultural dos prédios.Responsável pelo acompanhamento dos registros, o engenheiro da SPU no Ceará ainda acrescentou que o Iphan já mapeou as estações ferroviárias consideradas de relevância histórica para o Estado. Com o mapeamento, haverá condições de conhecer a situação de cada estação de trem, as precariedades, quais delas funcionam como centros culturais e as propostas viáveis para cada uma delas no Interior.A análise fortalecerá o destino social e cultural dos prédios. Caberá também ao Instituto, a definição dos critérios de utilização das estações e anexos. Quanto aos demais prédios, serão incluídos no patrimônio do Departamento Nacional de Infra-Estrutura (Dnit).A chefe da Divisão Técnica do Iphan no Ceará, Luciene Lobo, confirma a conclusão da inspeção. Uma equipe de especialistas seguiu toda a malha ferroviária do Estado. A pesquisa foi coordenada pelo arquiteto Alexandre Veras. Cada unidade de interesse histórico foi avaliada e muito bem catalogada. Todavia, a arquiteta afirmou não poder adiantar o resultado da fiscalização e nem os detalhes técnicos a respeito da pesquisa. Espera-se o resultado final do relatório para definir as atribuições e decisões necessárias para cada estação. Atribuiu a Veras a decisão da divulgação. No entanto, não foi possível contato com Alexandre Veras. Até o encerramento desta edição ele participava de um curso no Rio de Janeiro.SERTÃO CENTRALDemolição preocupa preservacionistasQuixadá Enquanto o mistério e a indefinição do destino dos prédios históricos persistem, em Quixadá, no Sertão Central, um grupo formado por alunos, professores, Organizações Não Governamentais e simpatizantes, reivindica o tombamento da estação ferroviária da cidade. Embora simples, composta por apenas um vão, a edificação representa a chegada do progresso à região, na era do "Ouro Branco", como era conhecido o algodão que desembarcava pelos trilhos rumo à Capital. O memorável monumento histórico não pode ser transformado em ruínas.Em seu livro, "Retalhos da História de Quixadá", o escritor e pesquisador João Eudes Costa dedica um capítulo à chegada da Estrada de Ferro. Suas pesquisas chegaram à preocupação do Imperador, Pedro II em criar comissões para percorrerem o Interior e estudar alternativas de amparo ao grande número de flagelados a sofrer com a estiagem. O início do século XX se aproximava e com ele o resgate da construção da via férrea de Baturité. Enquanto a barragem do Cedro se erguia, a Rede Viação Cearense (RVC) avançava sertão adentro.O saudosista e preservacionista remonta na sua obra literária à festiva recepção registrada aos 7 de setembro de 1891. "O apito do trem despertava para uma nova era de progresso". Dias antes, o prédio, embora provisório, recebia a bênção do padre Antônio Alexandrino de Alencar. Mas foi somente mais tarde, em 1922 que o prédio recebeu cobertas laterais, a pedido da Associação Comercial. Era grande o número de pessoas a se postarem diariamente para ver o trem passar. Algo parecido ocorreu recentemente na estação da vila de Juatama, nas filmagens do longa "O Auto da Camisinha".Hoje, apenas mendigos costumam se aproveitar do espaço lateral da mal conservada estação erguida no Centro de Quixadá, diante do Museu Histórico Municipal. Por esse motivo, professores e alunos da Faculdade de Educação Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc), aliados ao Instituto de Convivência com o Semi-Árido (IC), Associação dos Filhos e Amigos de Quixadá (Afaq) e simpatizantes, lutam pelo tombamento histórico e transformação do prédio num espaço cultural para a cidade.Enquanto não surgem informações concretas o grupo pretende realizar atividades artísticas nas noites das quartas-feiras no terminal ferroviário. A idéia, segundo o presidente do Instituto de Convivência, Osvaldo Andrade, é despertar o interesse da sociedade local para a transformação do edifício em patrimônio público e a atenção das autoridades para agilidade no processo de aquisição. O movimento também funciona como uma vigília. Receiam a demolição da estação e o armazém anexo da noite para o dia. Em abril do ano passado a Casa do Agente foi demolida.

COMUNIDADE DO CUMBE DENUNCIA ABUSOS DA EMPRESA BONS VENTOS

Hoje, dia 26 de agosto, desde a madrugada 70 moradores da comunidade estão fechando a estrada de acesso e reivindicando que a empresa resolva o problema. Informamos que representantes da empresa Bons Ventos estão no local com a polícia estadual e municipal para retirar os manifestantes.

Há anos a comunidade tradicional de pescadores e marisqueiras localizada no Cumbe, há 12 km da sede do município de Aracati, situada no litoral leste do estado é vítima da ocupação desenfreada dos mangues, lagoas e dunas. Porém há um ano, a comunidade passou a ser vitima da empresa Bons Ventos, responsável pela instalação de um Parque eólico sobre as dunas. Entre os problemas enfrentados pela comunidade, destaca-se a construção de uma estrada de acesso ao parque eólico. Além da poeira, agora as pessoas só podem sair de casa se atravessar um lamaçal que alcança a porta de suas casas. Os moradores afirmam que a lama chega até o joelho impedindo que as pessoas saiam de seus lares.

Durante muito tempo foi a criação de camarão em cativeiro – Carcinicultura, que ameaçou a segurança alimentar da comunidade destruindo os manguezais que garantiam o alimento para as famílias. Agora com a instalação dos parques de energia eólica da empresa Bons Ventos as dunas desmontadas, lagoas soterradas, sendo a água retirada das lagoas por carros pipas para jogar na construção da estrada.
Rosa MartinsInstituto Terramar

 
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